Subsídios Lições Bíblicas - Adultos - Lição 7: Tentação – A Batalha por nossas Escolhas e Atitudes


Lição 7: Tentação — A batalha por nossas escolhas e atitudes

1º Trimestre de 2019 
ESBOÇO GERAL
INTRODUÇÃO
I. A TENTAÇÃO
II. A TENTAÇÃO DE JESUS

III. A TRÍPLICE TENTAÇÃO
CONCLUSÃO

OBJETIVOS GERAL
Mostrar que Jesus venceu a tentação.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
I. Conceituar a tentação;
II. Explicar o processo da tentação de Jesus; 
III. Elencar as tentações de Jesus.
Tentação — A batalha por nossas escolhas e atitudes

Esequias Soares
Daniele Soares
   LIVRO BATALHA ESPIRITUAL

E importante que todos os crentes em Jesus saibam que Deus permite, às vezes, que sejamos tentados para que o seu nome seja glorificado e Satanás derrotado. Não é pecado ser tentado; até o nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado (Hb 4.15). É pecado, sim, ceder à tentação. Por mais contraditório que pareça, a tentação é para o nosso próprio bem: "Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" (Tg 1.12). Dessa forma, é preciso estarmos preparados para reconhecermos as situações em que somos tentados e resistirmos.

A tentação de Jesus no limiar de seu ministério terreno era o prenuncio da completa derrota final de Satanás e serve-nos de lição sobre como lidar com casos de tentação no dia a dia. A voz que veio do céu por ocasião do batismo de Jesus no rio Jordão, "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.17), parece ter deixado Satanás assustado, visto que se tratava daquele que veio para amarrar "o valente" e saquear "a sua casa" (Mt 12.29). Deus expulsou Satanás do céu, mas Jesus veio para expulsá-lo da terra fio 12.31).

TENTAÇÃO

O termo hebraico massá, "tentação, provação", é um substantivo feminino e ao mesmo tempo o nome do lugar onde houve a rebelião dos israelitas contra Moisés e contra Deus: "E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?" (Êx 17.7); "Também em Tabe- rá, e em Massá, e em Quibrote-Hataavá provocastes muito a ira do SENHOR" (Dt 9.22); "E de Levi disse: Teu Tumim e teu Urim são para o teu amado, que tu provaste, em Massá, com quem contendeste nas águas de Meribá" (Dt 33.8). Apesar de ser um substantivo, aparece com certa frequência em nossas versões como verbo: "ou se já houve algum deus que tentou tomar para si um povo" (Dt 4.34, NAA); "Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá" (Dt 6.16). Nas demais passagens, massa é traduzido como substantivo: "das grandes provas que viram os teus olhos, e dos sinais, e maravilhas, e mão forte, e braço estendido, com que o SENHOR, teu Deus, te tirou; assim fará o SENHOR, teu Deus, com todos os povos, diante dos quais tu temes" (Dt 7.19); "as grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas" (Dt 29.3); "Matando o açoite de repente, então, se ri da prova dos inocentes" (Jó 9.23). A Septuaginta traduziu massá porpeirasmós, "tentação", a mesma palavra usada com frequência no Novo Testamento como em: "E não nos induzas à tentação" (Mt 6.13).

O nissá, de nassá, "testar, provar, tentar", que às vezes vem junto com massá, tem o sentido de teste como na passagem do sacrifício de Isaque: "E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão" (Gn 22.1); "Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova" (ARA, NAA); "Depois disto experimentou Deus a Abraão" (TB); e na visita da rainha de Sabá a Salomão (1 Rs 10.1). Esse teste tem por finalidade revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6). Muitas vezes, o sentido desse verbo é de experimento, até mesmo no campo científico. A Septuaginta traduziu nissá pelo verbo grego peirázo, "testar, experimentar, tentar, pôr à prova", usado também no Novo Testamento (At 16.7; 24.6; Ap 2.2); e por ekpeirázo, "provar, por à prova, testar, tentar", quatro vezes:

"Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá" (Dt 6.16);

"E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o SENHOR, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos ou não... que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, e para, no teu fim, te fazer bem" (Dt 8.2, 16);
"E tentaram a Deus no seu coração, pedindo carne para satisfazerem o seu apetite" (Sl 78.18 [77.18 LXX]).

Esse mesmo verbo ekpeirázo aparece também quatro vezes no Novo Testamento, na resposta de Jesus a Satanás: "Não tentarás o Senhor, teu Deus" (Mt 4.7; Lc 4.12), uma citação em Deuteronômio 6.16; a terceira vez com o sentido de teste, por à prova (Lc 10.25), e a última vez quando o apóstolo Paulo chama a atenção dos crentes para não tentar a Cristo, citando a passagem de Refidim, de "Massá e Meribá" (Êx 17.1-7; l Co 10.9).

A TENTAÇÃO DE JESUS

Como Jesus, sendo Deus em toda a sua plenitude, da mesma substância do Pai e membro da Trindade juntamente com o Espírito Santo, pôde ser tentado? "Porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta" (Tg 1.13). Sim, é possível; veja o por quê. A Bíblia ensina que Deus é perfeito; sendo, pois, o Filho Deus igual ao Pai e da mesma natureza, Jesus não precisava aumentar ou diminuir seus conhecimentos. Nada teria para aprender e não havería como melhorar ou piorar seu comportamento. Porém, a Palavra de Deus revela que o Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem (Jo 1.1, 14; Rm 1.3, 4; 9.5). As Escrituras Sagradas apresentam diversas características humanas em Jesus; por exemplo, o relato sagrado de sua infância enfoca o seu desenvolvimento físico, intelectual e espiritual: "E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens... E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40, 52). O profeta Isaías anunciou de antemão que Emanuel "manteiga e mel comerá, até que ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem" (Is 7.15). A infância de Jesus é uma amostra clara da natureza humana de Cristo.

"Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (l Tm 2.5). Jesus Cristo é o eterno e verdadeiro Deus e ao mesmo tempo o verdadeiro homem. Tomou-se homem para suprir a necessidade da humanidade. O termo "Emanuel", que o próprio escritor sagrado traduziu por "DEUS CONOSCO" (Mt 1.23) mostra que Deus assumiu a forma humana e veio habitar entre os homens: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Uni- gênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14). O ensino da humanidade de Cristo, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois ele possui duas naturezas: a humana e a divina, o que está claramente expresso no seu nome EMANUEL.

Jesus foi revestido do corpo humano porque o pecado entrou no mundo por um homem, e pela justiça de Deus tinha de ser vencido por um ser humano. A Bíblia ensina que o pecado entrou no mundo por Adão (Rm5.12,18,19). Jesus se fez carne, tomou- -se homem sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado, e venceu o pecado como homem (Rm 8.3). A Bíblia mostra que todo o gênero humano está condenado; que o homem está perdido e debaixo da maldição do pecado (SI 14.2-3; Rm 3.23). Todos são devedores, por isso ninguém pode pagar a dívida do outro. A Bíblia afirma que somente Deus pode salvar (Is 43.11). Então, esse mesmo Deus tomou-se homem, trazendo-nos o perdão de nossos pecados e cumprindo ele mesmo a lei que Moisés promulgou no Sinai (At 4.12; 1 Tm 3.16; Cl 2.14). Quando Jesus estava na terra, ele não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou a si mesmo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.5-8). Como homem, tinha certa limitação quanto ao tempo e ao espaço e, portanto, era submisso ao Pai. Eis a razão de ele ter dito em João 14.28: "O Pai é maior do que eu".

Os evangelhos revelam atributos característicos do ser humano em Jesus, como por exemplo:

• Nasceu de uma mulher, embora tivesse sido gerado pela ação sobrenatural do Espírito Santo. Seu nascimento, contudo, foi normal e comum, como o de qualquer ser humano (Lc 2.6-7).
• Cresceu em estatura e em sabedoria (Lc 2.52).
• Sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt 8.24; Jo 4.6; 19.28).
• Sofreu, chorou e sentiu angústia (Hb 13.12; Lc 19.41; Mt 26.37).
• Teve mãe humana, além de irmãos e irmãs (Mt 12.47; 13.55-56).
• Morreu, embora tenha ressuscitado ao terceiro dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4).
• Deu provas materiais de ter corpo humano (1 Jo 1.1; Lc 24.39-41).
• Foi feito semelhante aos homens, mas sem pecado (Hb 2.17; 4.15).

Assim como é pecado negar a humanidade de Cristo (1 Jo 4.2-3; 2 Jo 7), é pecado também negar a sua divindade, pois Jesus é tanto humano como divino. Como homem, sentiu as dores do ser humano; e, como Deus, supriu a necessidade da humanidade. Foi nessa condição humana que Jesus foi tentado por Satanás no deserto logo no início do seu ministério terreno como registrado nos evangelhos sinóticos (Mt 4.1-11; Mc 1.12, 13; Lc 4.1-13). No entanto, a tentação de Jesus não se restringiu apenas aos 40 dias do deserto, mas permaneceu durante toda a sua carreira ministerial (Lc 22.28; Hb 4.15). Essa tentação é o primeiro acontecimento registrado de sua história depois do batismo por João Batista no rio Jordão.

A PEREGRINAÇÃO DE ISRAEL NO DESERTO EA TENTAÇÃO DE JESUS

Há certo paralelismo entre esses dois acontecimentos: quarenta anos de peregrinação, quarenta dias de tentação; quarenta dias e quarenta noites de jejum, Moisés e Jesus; quarenta anos Israel foi tentado no deserto, Jesus foi tentado durante quarenta dias no deserto. Deus guiou o seu povo no deserto para colocá- -lo à prova (Dt 8.2), e o Senhor Jesus "foi levado pelo Espírito ao deserto" (Lc 4.1); "Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mt 4.1).

O deserto é uma das características mais emblemáticas da Terra Santa; é um lugar de perigo com risco de ataques de nômades piratas ou ladrões, serpentes e escorpiões, falta de água, comida, com chances de perder-se e ficar desorientado, entre outros. No entanto, é no deserto que os seres humanos percebem a grandeza de Deus e a fragilidade humana; é um lugar de profundo silêncio para meditação e oração, onde há vastidão de espaço para ouvir a voz de Deus. Burge, especialista em Oriente Médio, na sua obra A Bíblia e a terra, descreve: "O deserto é um símbolo teológico para luta e privação. Para sofrimento e perda. Vulnerabilidade e desamparo. Deslocamento e confusão. Mas também é o local espiritual onde o renovo acontece e o homem, em meio à crise, descobre algo sobre Deus, que antes não conhecia" (p. 46) - o grifo não é nosso. Diante do conhecimento geográfico, então, entendemos que grandes homens de Deus no Antigo e no Novo Testamento, como Moisés (At 7.30-33), Elias (l Rs 19.4-10) e João Batista (Lc 1.80; 3.2), foram transformados e preparados para o serviço sagrado no deserto.

Os evangelhos não nos informam o local exato em que Jesus suportou os quarenta dias de jejum e tentações. Mas há concordância entre muitos estudiosos de que se trata de uma parte despovoada da Judeia, onde João Batista iniciou o seu ministério. A tradição posterior indica o monte da Quarentena a oeste de Jerico, onde foi construída na encosta da montanha uma igreja no século 6.

Segundo a narrativa de Mateus, Jesus jejuou "quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome". Moisés também jejuou quarenta dias e quarenta noites quando recebeu as tábuas da lei no monte Sinai: "E esteve Moisés ali com o SENHOR quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os dez mandamentos" (Êx 34.28). Moisés reiterou essa experiência posteriormente (Dt 9.9). Há algo similar na tentação de Jesus. Talvez a intenção do Espírito Santo seja apresentar Jesus como um novo Moisés, o novo legislador, pois o próprio Senhor Jesus se apresentou com tal autoridade no pronunciamento do Sermão do Monte com a expressão "ouvistes que foi dito aos antigos", ou fraseologia similar, "eu porém vos digo" (Mt 5.21,22,27,28, 31-34, 38, 39, 43, 44). Depois de Moisés, somente o profeta Elias e o Senhor Jesus tiveram experiência semelhante de um jejum quarenta dias (1 Rs 19.8; Mt 4.2). São três situações específicas que não devem ser tomadas como doutrina da Igreja. Nem mesmo Saulo de Tarso praticou um jejum de quarenta dias no início de sua caminhada com Cristo; ele jejuou apenas três dias e três noites: "E esteve três dias sem ver, e não comeu, nem bebeu" (At 9.9).

Elias, o segundo Moisés, esteve quarenta dias sem comer (l Rs 19.8), e da mesma maneira o Senhor Jesus, o Moisés Maior, esteve quarenta dias e quarenta noites sem comer (Mt 4.2). Lucas afirma que Jesus, "naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome" (Lc 4.2). O verbo grego, nesteuou, "jejuar", significa literalmente "abster-se de alimento" Nenhum desses evangelistas fala sobre sede ou água. Parece que Jesus se absteve totalmente quarenta dias e quarenta noites de alimento, e não de água (Lc 4.2).

Apesar de o jejum ser uma prática salutar na vida cristã até os dias atuais, ninguém deve exagerar e querer imitar a Moisés em um jejum desse tipo, durante quarenta dias e quarenta noites. Isso aconteceu só duas vezes com Moisés e ninguém mais; foi algo inédito. Portanto, não deve ser estabelecido como doutrina (Êx 34.28; Dt9.9,18). Esse esclarecimento é importante porque sempre aparecem os exibicionistas dizendo jejuar ou estar jejuando quarentas dias. Na verdade, jejum é abster-se de alimento; essa gente se abstém de sólido, mas se alimenta de milk-shake, vitamina, e chama isso de jejum, que na verdade não passa de uma dieta. O jejum absoluto é abstenção de alimento, seja ele sólido, líquido ou cremoso; o jejum parcial é aquele em que o crente se abstém só de alimento, ingerindo água, aos poucos, e somente água, água pura, sem chá, sem suco, sem vitamina, sem milk-shake.

A TRÍPLICE TENTAÇÃO

Nada há no relato da tentação de Jesus no deserto que possa sustentar uma interpretação subjetiva, simbólica ou visionária. A maioria dos expositores bíblicos reconhece os relatos como descrição de fatos externos reais, o diálogo como pessoal: "Alguns estudiosos comparam o debate intelectual entre Jesus e o diabo à forma dos debates rabínicos" (KEENER, 2017, p. 53, 54). As possíveis dificuldades do texto sagrado estão em como "o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo" (Mt 4.5); e em como o diabo teria transportado Jesus a um monte muito alto e "e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles" (Mt 4.8). Não se sabe como esses deslocamentos ou movimentações ocorreram, nem detalhes de como Satanás se apresentou a Jesus, mas se sabe que ele se apresenta de diversas maneiras, em forma de serpente, como aconteceu no Éden (Gn 3.1-5; Ap 12.9), ou até mesmo como um anjo de luz (2 Co 11.14). De qualquer modo, a formulação: "Então, o tentador, aproximando-se" (Mt 4.3, ARA) é um estilo que expressa nitidamente que o diabo se aproximou de Jesus como personagem físico. Além disso, a teologia rabínica ensinava que os espíritos, ao se mostrarem às pessoas, faziam-no em figura humana. A linguagem: "Então o diabo o transportou à Cidade Santa" parece confirmar esse pensamento rabínico.

Mateus e Lucas registraram as três últimas investidas de Satanás contra Jesus, e elas foram o ápice dessas tentações. Na verdade, Jesus foi tentado em todos os quarenta dias: "Imediatamente o Espírito o impeliu para o deserto. Ali ficou quarenta dias tentado por Satanás" (Mc 1.12, 13, TB); "quarenta dias foi tentado pelo diabo" (Lc 4.2). E continuou sendo tentado durante todo o tempo de seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15).

O relato de Mateus apresenta as três tentações na ordem cronológica, como de fato aconteceu, segundo a opinião da maioria dos expositores bíblicos, diferentemente de Lucas, que inverte a ordem entre a segunda e a terceira tentações, isso em relação a Mateus. A tentação no pináculo do templo é posterior à do "monte muito alto" em Lucas (Lc 4.5, 9). O pináculo era o lugar mais alto do complexo do segundo templo. O termo grego é pterygion, que significa "pequena asa" e designa a ponta ou extremidade de alguma coisa, que a Vulgata Latina traduziu por pinnaculum. Estudos em Josefo e na Mishná indicam a extremidade sudeste da área do templo com vista para o vale de Cedrom.

A sequência do relato de Mateus é a seguinte: l) "Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães" (Mt 4.3); 2) "o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo [...]" (Mt 4.5, 6); 3) "Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles" (Mt 4.8).

O inimigo de nossa alma é identificado na presente narrativa da tentação no deserto por três nomes: o diabo, o tentador e Satanás (Mt 4.1, 3, 10). A primeira tentação tinha como um dos objetivos levar Jesus a se desviar do programa divino. O Filho aceitou a condição humana de completa obediência ao Pai, por isso cabia a Jesus cumprir o dever de confiar em Deus para o seu sustento. Como ser humano, o Senhor precisava confiar na providência divina; do contrário, seria diferente dos humanos. O poder de Jesus para operar milagres não era para benefício próprio; era para servir aos outros, não a si mesmo. Ele nunca fez uso pessoal de seus poderes: "Salvou os outros e a si mesmo não pode salvar-se" (Mt 27.42); "Salvou os outros e não pode salvar- -se a si mesmo" (Mc 15.31). De modo que transformar pedras em pães significava ser Jesus a sua própria providência e subverter a ordem natural do programa divino. Uma vez que nós, seres humanos, precisamos confiar na providência divina, nesse caso o Senhor se tornaria diferente dos humanos.

Satanás sabia que Jesus era o Filho de Deus; sem dúvida alguma ele ouviu com a multidão o testemunho do Pai: "E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.17). Mas, nesse caso, Satanás se aproveita da fragilidade física proveniente da fome para desafiar Jesus a provar a sua filiação divina operando um majestoso milagre de transformar pedras em pães. O Senhor Jesus não precisava provar nada para o diabo, mas o derrotou pelo poder da Palavra de Deus, ao responder: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4.4). Essas palavras são tiradas do Antigo Testamento, de uma tentação de Israel no deserto: "E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem" (Dt 8.3). A resposta de Jesus deixou o diabo completamente desarticulado nos seus argumentos. Tendo sido vencido, Satanás tenta um segundo round.

Na segunda tentação, o diabo ainda se apega à questão da filiação divina e, visto ter sido derrotado pelo poder da Palavra de Deus, ele agora citada de maneira truncada as Escrituras: "Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra" (Mt 4.5,6). O diabo cita Salmos 91.11,12, mas o faz fora do contexto. A proposta apresentada por ele é substituir a fé pela presunção. O diabo tentou persuadir Jesus a cometer um ato de vaidade como demonstração pública de que era enviado por Deus. Mas a resposta de Jesus mostra que o diabo está tentando Jesus a fazer exatamente o que os israelitas fizeram em Massá, quando se rebelaram contra Moisés e contra Deus (Êx 17.7). É emblemático que o Senhor Jesus tenha respondido usando as palavras do próprio contexto da rebelião do deserto: "Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá" (Dt 6.16); "Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus" (Mt 4.7).

A terceira e última dessas três investidas satânicas é descrita em Lucas com algumas informações adicionais e algumas omissões em relação ao relato de Mateus: "E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe, num momento de tempo, todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu" (Lc 4.5-7). Em Lucas essa é a segunda tentação; diferentemente de Mateus, Lucas não segue a ordem cronológica. Lucas diz que o diabo mostrou a Jesus todos os reinos do mundo "num momento de tempo", expressão que parece apoiar a ideia de uma "visão". Não se sabe como isso aconteceu; o certo é que do alto da montanha podia ver os antigos territórios ocupados pelo Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. O diabo diz a Jesus que a autoridade sobre os reinos do mundo lhe foi entregue, bem como o poder de dá- -los a quem quiser. Portanto, ele ofereceu tudo isso a Jesus pelo preço de uma só adoração.

Teria Satanás o controle do mundo a ponto de oferecê-lo a quem desejasse? Sabe-se que ele é o "pai da mentira" (Jo 8.44). A fé cristã repousa sobre a convicção de que a autoridade sobre o mundo pertence, em última análise, a Deus. Mas ele pode permitir que outro a exerça de forma passageira e limitada, e é dessa forma que Satanás aparece como "o príncipe deste mundo" (Jo 12.31); "o deus deste século" (2 Co 4.4); "o príncipe das potestades do ar" (Ef 2.2); "os príncipes das trevas deste século, [...] as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12). Tudo isso que o diabo oferece a Jesus em troca de uma adoração, Deus, o Pai, já havia oferecido ao Filho definitivamente e para sempre (Sl 2.8). Mais uma vez, Jesus derrota Satanás pelo poder da Palavra de Deus: "Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás" (Mt 4.10), uma citação da lei de Moisés (Dt 6.13). O diabo usou todos os seus recursos para desviar o Senhor Jesus de sua missão. Adão fracassou no Éden, Israel fracassou no deserto, mas Jesus venceu!

VENCENDO AS TENTAÇÕES

Quando for o momento da batalha espiritual, em que percebemos algo atacando o trabalhar de Deus na nossa vida, lembrar o episódio da tentação de Jesus no deserto é encorajador. A história demonstra que Jesus entende o que nós passamos quando somos tentados porque ele enfrentou as mesmas tentações para pecar que vivenciamos todos os dias. O Senhor Jesus resistiu à tentação, e por isso podemos contar com sua ajuda para agirmos da mesma forma, "porque, naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados" (Hb 2.18). As perguntas que Satanás faz a Jesus envolvem devoção a Deus. Isso nos leva a analisar qual nosso comprometimento com o Senhor e qual o fundamento da nossa fé, se é a comida física ou a Palavra de Deus. É o indicativo de estarmos ou não preparados para enfrentar os ataques malignos.

É possível preparar-nos para lidar com as tentações do dia a dia, estabelecendo algumas maneiras de responder quando o pecado se apresentar. O texto de Provérbios 4.14, 15 nos alerta para não seguirmos o caminho dos maus, não os tomarmos como exemplo de vida e nos desviarmos da comunhão com ele. O apóstolo Paulo recomenda em suas cartas que os irmãos e as irmãs fujam da tentação (l Co 6.18; 10.14; l Tm 6.9-11), e Tiago aconselha que se resista ao diabo (Tg 4.7). Além disso, como servos de Cristo, somos instrumentos para ajudar as outras pessoas a vencerem a tentação. Nosso papel é encorajá-las na sua jornada com Cristo e não as induzir ao caminho mau.

Videoaula - pastor Esequias Soares



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